[MUSIC] Speedrun - Club Shy, HEAT, brat e Performance
Parte de mim queria guardar alguns desses álbuns pra fazer uma grande retrospectiva lá pro finzinho de 2024. Mas, venhamos e convenhamos, se eu já não tenho escrito tanto aqui quanto eu gostaria, quem dirá mais no fim do ano com tanta coisa pra fazer e naquele cansaço pré-férias? Decidi então falar desses álbuns, que pra mim tem todos o mesmo ascendente, ou talvez o mesmo Marte. Separa então um bom fone de ouvido e vamos de músicas de garotas que saem a noite nessas reviews.
Shygirl - Club Shy
A primeira faixa, 4eva, em parceria com a belíssima voz da Empress Of, dita muito bem o tom do que vai se seguir. E é interessante como a Shygirl soube alternar bem seus vocais mais sutis e baixos com outras vozes mais leves e aeradas no álbum, não só aqui mas também em thicc, saída direto dos charts europeus do fim dos anos 90. O álbum todo tem instrumentais muitíssimo bem executados, com batidas em diferentes níveis e que não se tornam repetitivas.
O único defeito é que mesmo pra um EP ele é curtíssimo, mal passando dos 15 minutos. Não é duração nem de um esquenta, quem dirá de um club. E fico triste também que a mais Shygirlesque das faixas, a viciante encore, ficou só no fim da versão remix do EP. Ela merecia ter um pouco mais de brilho e destaque na obra original, e talvez ter uma irmã também no trabalho principal. Mas talvez aí não fosse mais um EP ou a própria proposta dele. De qualquer modo, se alguém perdeu o lançamento dessa ao checar só o EP original, vale e muito o play. E pra quem perdeu o próprio EP, antes tarde do que nunca.
É muito bom quando uma diva pop se une a algum produtor que combine tão bem com ela e explorem seus melhores lados, reciprocamente. E pra mim é isso que tem acontecido com a Tove Lo e o SG Lewis, que até em feat com outros artistas continuam aparecendo juntos.
HEAT é mais um EP pronto para uma noitchy de boatchy, cujo único defeito, de novo, é só a duração. E de novo, são só quinze minutos de música, e apesar de serem só quatro músicas, elas se conversam e se desenvolvem muito bem. Nisso ela acerta mais que Shygirl ao dar tempo de cada música crescer e se marcar. Tove explora bem seus característicos vocais, com aquela leve rispidez em algumas notas, muita libido e sedução nas palavras mais simples, e aqui mais do que nunca eles funcionam com tanta excelência por não se preocuparem em explorar uma grande gama de notas e belts, mas sim em passar a emoção de cada momento. A faixa-título encontra uma Tove mais divertida, enquanto Let me go OH OH tem mais suspiros e sutileza, por exemplo.
E o EP fecha muito bem no trance/europop Desire, que como bem pontuado por um amigo meu no (finado) Twitter, parece saída direto de um ayu-mi-x. Ao mesmo tempo que há elementos de anos 90 aqui, Lewis trabalha muito bem pra dar também um ar futurista e fresh no resultado final. E como toda música que quer ser um bom trancezinho que se preze, ela vai se transformando de pouco em pouco, subindo e descendo, com aquele final delicioso que deixa um gosto de "quero mais", e isso combina perfeitamente com tudo que a Tove é (isso é, tesão).
Não vou negar, eu demorei a dar o braço a torcer pro brat por pura (perdão) pentelhice minha. Como o fã que sou de Rina Sawayama, foi triste ver Charli rompendo com ela do jeito que tudo foi. Até desmereci grandemente a Charli nas redes assim que o álbum saiu e dei minha primeira ouvida, e me arrependi de ser tão raso ao falar dela. É inegável que, há anos, Charli sabe fazer música pop, seja pra si ou para os outros. Há eras ela vem, digamos, comendo pelas beiradas, trabalhando com muitos nomes da indústria, e vários deles não óbvios. Ela sempre soube ser chiclete na medida certa, ousar na medida certa, mas acho que o que faltava no seu trabalho autoral era uma identidade e direção mais claras de si mesma. E felizmente foi com brat que tudo se encaixou, inclusive o timing para elevá-la tanto nos charts quanto na crítica.
É quase irônico como ao mesmo tempo brat é o momento em que ela mais abraça seu lado party girl mas também mostra seu lado mais vulnerável. E o grande trunfo do álbum é como isso faz com que tanta gente se conecte com ele. Ele engloba ânsias e alegrias geracionais: de um lado finalmente somos adultos independentes festando por aí, em outro estamos pensando se já não seria tarde demais para ter filhos, depois lembramos de traumas familiares e nos jogamos na noite em algum escape pra lidar com tudo isso. E de novo e de novo. E de novo e de novo. É tudo um fruto de uma geração que achou que teria tudo o que lutasse pra ter, e depois de uma pandemia e caos ambiental, agora mal sabe se terá outros cinco anos de paz para viver.
brat junta tudo o que os últimos álbuns de Charli tentaram ser, mas ao não levar essa proposta tão a sério ele encontra sucesso: Ele reflete muito melhor o que estamos vivendo do que o how i'm feeling now; ironiza o cenário das divas pop sendo parte dele muito melhor que o Crash; e mostra muito melhor quem Charli é do que o próprio Charli. Com tudo na marcha certa, temos aqui certamente um dos álbuns do ano, ou quiçá da década.
Acompanhar o trabalho do Robert Alfons, ou TR/ST, é sempre uma experiência imersiva pra mim. Sabe aquele artista que você sequer lembra como começou a ouvir? Se foi indicação de amigo, se foi no aleatório de alguma playlist ou lendo em algum blog sobre ele? É assim comigo e TR/ST, e eu acho isso interessantíssimo porque parece que é alguém que sempre esteve ali, mas você nunca nem percebeu.
O som de TR/ST, desde o debut quando o ato ainda era uma dupla, sempre certeiro pra mim, um belíssimo synthpop darkwave, com muitas camadas de instrumental e aquela coisa distorcida na medida certa que eu mal faço ideia do que está sendo cantando em alguns momentos mas i'm living for it yas girl kudos mesmo assim.
Após a segunda parte do álbum The Destroyer, porém, eu fiquei receoso do que viria pela frente. Apesar de nele termos uma das minhas faixas Top3 dele (Iris), o todo foi bem apagado e disperso. Faltava aquele drama, aquela complexidade e sensualidade que sempre acompanhou o trabalho do Robert. Parecia quase que algo tinha batido errado naquele momento.
Felizmente, Performance retoma o som que eu amo do Robert, ou ao menso em grande parte. Regret, por exemplo, é um grande resumo de tudo que eu amo nas músicas dele, dos vocais sussurados sensuais e melancólicos, ao instrumental cheio de bass e ecos e leves batidas quase que de 8-bit. Outro ponto alto é Boys of LA, que talvez seja a canção mais "club" do álbum, mas com todas assinaturas que TR/ST têm. Ela te transporta pra alguma festa em Berlim (isso é, uma festa gay) que você caiu por acidente depois de chorar por alguém, e todos os caras são extremamente lindos e estão te olhando, mas talvez estejam todos um pouco drogados demais pra fazer algo senão olhar. E aí você cai naquele misto de escuridão e estrobos, entorpecido mas num ambiente novo mas familiar. E isso quase que resume o melhor do som do TR/ST, naquela dualidade homosssexual de se encontrar em novos ambientes e descobrir o seu prazer, mas trazendo consigo a melancolia e talvez até o pesar que são tão intrínsecos à vivência LGBTQIA+.
O ponto fraco do álbum, porém, fica nos momentos mais "diurnos" como Performance e All At Once, que soam como releituras rasas de Pet Shop Boys (que com certeza estava no moodboard desse álbum, já que no meio das b-sides do álbum tivemos Robert em dueto com Jake Shears fazendo um cover de Being Boring). Não só aqui as músicas parecem um pouco básicas demais para o que Robert consegue fazem, como elas ficam alternadas com músicas mais norturnas e geram um descompasso estranho no álbum. Especialmente com Warp sucedendo uma delas.
No todo, é um trabalho que supera seu antecessor. Por outro lado, não vai além dos primeiros trabalhos, infelizmente. Talvez isso nunca acontença, seja por nostalgia, seja por TR/ST não ser mais um duo, ou simplesmente porque ele não quer se repetir demais. Mas é certo que aqui ficamos numa linha melhor que a anterior. Que haja mais energia nos próximos trabalhos, pois potencial e emoção aqui temos de sobra.
⭐⭐⭐☆☆
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