[MUSIC] Koda Kumi - UNICORN

 

Às vésperas de seu 25º aniversário de carreira, Koda Kumi lança o impressionante 19º álbum de estúdio UNICORN (aqui "impressionante" se refere ao fato de ser o décimo-nono álbum, e não ao disco em si). E assim como unicórnios não existem, fica a pergunta no ar se o senso de direção de Kumi também existe ou não.

Dando um passo pra trás, vale recapitular de onde Koda Kumi tem vindo nos últimos anos. Até porque ela adora se autorreferenciar, então cabe esse momento aqui. 
  • Em 2017 tivemos os álbuns irmãos-complementares W FACE -outside- e W FACE -inside-, que começaram uma onda de dualidade em tudo que Kumi fez na sequência;
  • Em 2018 tivemos os álbuns opostos-mas-nem-tanto AND e DNA;
  • Em 2019 tivemos a re(LIVE) Tour que na verdade eram duas turnês em uma, em que Kumi alternava recriar a Black Cherry Tour, de 2007, e a JAPONESQUE Tour, de 2013;
  • Também em 2019, por algum effin motivo ela lançou um cover de Livin' la Vida Loca e também o cover de GOLDFINGER '99 que é um cover em japonês dessa mesma música, e os clipes das duas faixas eram iguais mas espelhados???;
  • Em 2020 tivemos os mini-álbuns angeL e monsteR que por algum motivo antogonizavam também Left e Right mas como isso vai além de uma letra em caixa alta no nome do álbum eu não faço ideia;
  • Em 2022 tivemos o álbum heart, que apesar de ser um lançamento único também trazia uma proposta de começar com uma persona fria e terminar em uma amorosa;
  • Em 2023 tivemos o EP WINGS que começava feliz e no interlude BLACK WINGS virava algo mais sombrio;
  • E ainda em 2023 tivemos mais uma turnê dupla, a Live Tour 2023 ~angeL & monsteR~.

(war flashbacks)

No meio disso tudo, Kumi se autorreferenciou zilhões de vezes: recriou cenas de clipes antigos, sampleou a si mesma em Rich & Famous e em Sure shot, revisitou suas turnês mais icônicas, regravou suas músicas e também lançou uma compilação que (guess what Mimi) recriou um ensaio de compilação anterior (e que ela já havia recriado em 2010!!)


Não acho que se referenciar é necessariamente algo ruim, mas parecia que estávamos presos em um eterno Road to 20th anniversary ~just the beginning~ chapter 0 em que pouquíssimas vezes tivemos algo novo. Eram sons familiares, cenários familiares, e até quando tivemos novas colaborações, como foi o dueto GOOD TIME com a cantora AI, era um throwback dos anos 2000. E muitos dos visuais eram em fundos cinzas ou brancos, cenários indoors, tudo parecia ser mais ou menos da mesma época. Talvez teria sido mais legal se não fosse a avalanche de lançamentos, pois contando que de 2017 a 2023 foram lançados SEIS álbuns e TRÊS mini-álbuns, é nítido que não houve espaço pra diferenciar uma era de outro e ver o rumo do mundo e do que ela mesma fazia.

Bom, #tbt finalizado, posso chegar em UNICORN. O anúncio do álbum, às vésperas de uma turnê de estilo "best singles", parecia um sopro de novidade. Capas coloridas, com toques de fantasia e surrealismo giving "Salvador Dalí if he slayed e usasse botinhas Marc Jacobs realness", parecia que finalmente teríamos algo novo!

Eis que, pouco tempo depois, foi anunciado que das 10 músicas do álbum, 5 eram... covers! E o resto já tinha sido lançado em 2023!!

Se todo esse contexto pudesse ser tirado da minha mente, acredito que teria uma recepção muito diferente desse álbum. Dado que isso é impossível, vamos lá.


Quando esse álbum é bom, ele é MUITO bom. Heaven's Kitchen prova pela enésima vez que Koda Kumi consegue fazer rock muito bem, só falta ela mesma querer mergulhar de cabeça nisso em um álbum por completo. UFO mostra um lado mais sensual e sutil, algo tão intrínseco a ela mas que nas diversas vezes em que ela tentou ser super cool e descolada acabou ficando pra trás. TOKIO navega muito bem por um estilo retrofuturista, extremamente divertida e polida.

Porém, temos Vroom, em que ela tenta ser muito edgy e alternativa mamba negra luz neon, mas falta o polimento que algo mais industrial precisa pra ser consistente. Temos PIECE OF MY WISH que é a quadragésima septuagésima nona baladinha de piano da sua discografia. E temos Let's fight for love! que é mais uma musiquinha de encerrar show girando toalha. Depois de tanto tempo se referenciando, Kumi agora atira pra todos os lados e referencia Deus e o mundo numa tacada só.

E como lançamento, o álbum parece sem propósito algum. Pra começo de conversa, porque UNICORN? No seu último show de 2023 tivemos ampulhetas no logo e na merch. Temos Kumi segurando areias pelas mãos nas capas, remetendo a ampulhetas. No photobook temos ela editada dentro de uma ampulheta. Temos covers e temos músicas originais, criando uma coisa meio viagem no tempo. Como esse álbum não foi chamado de HOURGLASS??? Talvez o que eu esperava do álbum fosse diferente só por isso, porque pra mim chamar um álbum de UNICORN já puxa na mente um som de bubblegum pop muito cintilante, ou de um rock com momentos de ~~viagem~.


Surpreende também o álbum ser lançado em quatro versões sendo que não há nenhum bônus que justifique isso: só temos uma faixa original inédita, não temos bonus tracks ou remixes, não temos um DVD com conteúdo diferenciado para nenhuma versão e nem mesmo um clipe novo para acompanhar o álbum. De longe, esse é o maior cash-grab dela, e a julgar pelos primeiros dias nos charts, não vai nem trazer muito cash no fim.

Como álbum, UNICORN é uma playtlist caótica, mas que se selecionada com cuidado pode trazer bons momentos. Vale fazer uma seleção chamada PEGASUS no Spotify e juntar as melhores do WINGS e do UNICORN. Fico na esperança de que a turnê desse ano expanda o álbum, e que no 25º aniversário de carreira tenhamos algo novo, ao invés de passarmos pelo mesmo checklist de estilos e propostas. Me sinto mal, por um lado, de querer que alguém saia de sua zona de conforto pra me agradar, mas se esse conteúdo é posto à venda, porque não me sentir no direito de esperar um pouco de novidade? Ou ao menos que ela rume em alguma direção clara, porque depois de tanto vra vra vroom pra lá e pra cá, esse carro já capotou.


⭐⭐

Comentários

Postagens mais visitadas