[GAME] Revisitando: The Legend of Zelda - Tears of the Kingdom

 


Pouco mais de um ano após seu lançamento, voltei a consumir alguns vídeos sobre The Legend of Zelda - Tears of the Kingdom no YouTube celebrando o aniversário, ou checando vídeos sobre segredos e easter eggs que poderia ter perdido, e também acompanhei mozão retomando o jogo. Com isso, voltei a pensar no jogo e analisar seu todo com um pouco menos daquela euforia que acompanha um lançamento. Porque não organizar tudo isso numa review, então? 

Tears of the Kingdom, ou simplesmente TotK, foi um anúncio misterioso por muitos anos, inclusive o próprio subtítulo apareceu muito depois do primeiro teaser revelando que Breath of the Wild teria uma sequência. E foi só bem perto do lançamento que maiores detalhes e mecânicas foram revelados em trailers, e mesmo assim MUITA coisa conseguiu ser uma surpresa quando o jogo chegou. Sabíamos que teríamos cavernas na superfície, e ilhas no céu, mas quando mergulhei pela primeira vez nas profundezas e entendi o TAMANHO delas, tive um choque misturado com admiração como poucos outros jogos conseguiram ne causar. E acho que justamente esse tom de surpresa permeou muito da minha gameplay.


TotK tinha uma missão duplamente ousada: entregar algo no mínimo tão bom quanto Breath of the Wild, e entregar isso estando limitado ao mesmo console que ele. E aqui aparece o ponto negativo mais evidente do jogo, pois em alguns momentos você podia sentir o Switch suando de esforço, em especial se você jogasse algo de fogo no meio de vários inimigos. Mas, em 99% do tempo de jogo, ele fluiu bem, mesmo tendo agora os mapas adicionais do céu e das profundezas e também as cavernas da superfície. E não havia loading entre esses "planos", exceto se você se teletransportasse. Era possível sair do ponto mais alto do jogo ao mais profundo livremente. No mínimo, surpreendente como tudo isso foi comportado na plataforma.

Em questão de plot, bom... É facilmente o melhor da série, mas também não são muitos os jogos que saem do clássico "jovem desconhecido por favor salve a princesa deste vilão antropomorfo". Como exceção, temos Majora's Mask, que ainda por cima tem um som sombrio muito singular na franquia, e TotK parecia ir na mesma direção. E ele foi,  de fato. Seja por cenas de Zelda falando de sua relação com Link, seja por meio de pequenos itens que descobrimos no jogo, ou o próprio diário de Zelda, tivemos uma construção entre os dois personagens que o jogo antecessor careceu. E isso deixou as descobertas sobre o que acontecera com Zelda ainda mais tristes. Lembro de largar o controle no meu colo e simplesmente chorar e soluçar com aquela fatídica cutscene. Tivemos também um rei que se sacrificou pelos companheiros e pelo reino, um vilão extremamente poderoso e cruel, com forte inspiração no sub-aproveitado Demise de Skyward Sword, e os "Champions" deste jogo também traziam mais profundidade, visto que eles já conheciam Link e tiveram uma relação com ele durante a Calamidade. 


O jogo poderia, porém, ir ainda mais além em alguns desses pontos. Os portadores de secret stones do passado, por exemplo, sequer ganharam nomes. E todos repetiram a mesma história da mesma guerra. Parecia uma semente de algo que seria expandido numa DLC, mas então a Nintendo anunciou que não haveria DLC's e ficamos só na esperança mesmo. Inclusive, que nome foi esse de SECRET STONES??? Outro ponto que infelizmente ficou muito raso.

Migrando de campo, as mecânicas novas desse jogo ficaram nada mais nada menos do que suberbas. Refinaram muito bem ideias que vimos já muito bem apresentadas em BotW, e todas as dinâmicas do jogo e ainda mais do combate foram muito bem renovadas com os novos poderes de Link. Nesse aspecto, o jogo se diferenciou e elevou muito bem o anterior. Uma dinâmica de destaque, ainda que para alguns impopular, foi pra mim a grande dificuldade em conseguir dinheiro nesse jogo. Mais do que nuca,  fomos incentivados a explorar mais e mais os combates, saquear baús de tesouros dos inimigos, explorar cavernas, coletar e vender itens e tudo mais que tínhamos de alternativa. Pra mim, foi um ganho enorme e que conversou muito bem com a direção do jogo.



Também vale destacar outro ótimo refinamento: o modo como ao invés de Divine Beasts tivemos templos neste jogo, ainda que só um ou dois se assemelhem com mais intensidade aos templos dos jogos pré-Switch. Pra mim, ao menos, os templos são uma parte essencial de Zelda, onde temos tantos combates, frustrações e descobertas que marcam o jogo, em um ritmo distinto do que acontece fora deles, então ter as Divine Beasts em BotW foi o maior ponto negativo daquele jogo no meu coração. Nesse jogo, tivemos templos mais únicos, mais vivos. Eram lugares com histórias distintas, ligadas a povos diferentes, não máquinas de pé direito alto com a mesma arquitetura, textura e trilha sonora. No futuro, com um pouco mais de refinamento, acredito que conseguiremos chegar num formato que se encaixe como uma luva ao novo formato sandbox-ish de Zelda.

As side quests também foram uma grande evolução, deixando de ser um amontoado de buscas genéricas para serem extensões da narrativa do jogo, mais criativas, envolvendo batalhas, transporte, reconstrução, coleta. Foram atividades que combinaram muito com o ambiente de mundo em reconstrução em que fomos inseridos.



A direção de arte é fantástica, como de praxe para a franquia. Mesmo nos jogos mais chatinhos *(cofcofskyward sword)*, tivemos ótimas ambientações, trilhas sonoras e character designs excelentes. E TotK, para o bem e para o mal, segue na mesma linha de BotW, sabendo usar os novos ambientes do céu e das profundezas para trazer novas linhas. O destaque, com certeza, fica com os templos, seguindo o que já citei deles sobre trazer história e uniqueness a cada um deles.

Porém, em muitos momentos do jogo, sentia que algo me incomodava, uma sensação de que algo estava "quase lá", mas não "lá de fato". Só que eu estava tão entretido que não consegui parar e refletir com calma sobre essa coceira na nuca. E foi olhando meu Hero's path depois de meses sem jogar TotK que percebi o que era: eu amei expolorar as cavernas (todas), as shrines (todas), ilhas do céu (quase todas) e profundezas (completas)... Mas ignorei praticamente todo o resto da superfície. As cidades não pareciam tão diferentes a ponto de valer uma exploração profunda, as rotas e locais importantes eram quase todos os mesmos, só que agora com uma pedra ou outra aqui e ali. E aí no primeiro buraco para o subsolo ou torre para o céu, eu zarpava para outro mapa. E isso tornou a experiência um pouco mais solitária, digamos, pois eram nesses ambientes que estava a maioria dos NPCs do jogo.


Talvez seria pedir demais do time de Zelda mas talve, taaaalvez, se estivéssemos em uma Hyrule de muitos anos no futuro, mais distinta, ou mesmo em outro reino, esse lado da exploração poderia ser mais frutífero. E um re-equilíbrio entre os três níveis seria positivo também: o céu, que parecia ser uma peça tão chave pelos trailers, no fim era simples e repetitivo após a ilha-tutorial do começo do jogo, e as profundezas eram muito maçantes, com as mesmas plantas, montanhas, músicas e inimigos por todo aquele gigantesco mapa. Seria, eu acho, mais interessante termos um céu com ilhas maiores, um novo overworld e depois as cavernas que se ligam às profundezas, e essas poderiam ser menores mas melhor trabalhadas.

Mas aí também, estou beirando a picuinha em busca do jogo perfeito do Gummy. No todo, é justo sim dizer que TotK refina e supera BotW, mas talvez não passe sempre essa impressão pelos elementos reaproveitados. Esse jogo teve também uma das melhores e mais cinematográficas das batalhas finais da franquia, botando a decepção que fora o Calamity Ganon de BotW pra m*mar. Quase tudo aqui é mais profundo, retocado, uma arte-final de algo que sequer pareceu um rascunho. Nunca vou me cansar de exaltar essa encarnação da Zelda como a mais heroica de todas as princesas da franquia, e ao mesmo tempo curiosa, exploradorane destemida. 

É grande motivo de admiração como, mesmo com mais de 30 anos nas costas, a franquia se renova e lidera tanto no mundo dos jogos, e continua crescendo em vendas e alcançado novos públicos. Provavelmente o próximo lançamento da franquia não será um inédito, mas um remake, mas quando tivermos o novo de fato jogo da franquia, tenho certeza absoluta que estaremos diante de mais um jogo revolucionário, tal qual Tears of the Kingdom. Eu apenas não gostaria de estar novamente nesta mesma Hyrule, e acho que a Nintendo também não. Nada contra, porém, os personagens partirem em rumo a algum novo lugar, como já aconteceu com Spirit Tracks. No todo, tenho certeza que Zelda continuará pensando fora da caixinha, mostrando que muitas vezes nos prendemos em tipo de gameplay e deixamos tantas vias de lado. Que venha a próxima obra-prima!

⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️

Comentários

Postagens mais visitadas